08 dezembro 2011

Atlas Mnemosine

Leone Niel


Bilderatlas Mnemosyne (Atlas de Imagens Mnemosine) era um projecto de Aby Warburg, historiador de arte e filósofo, que consistia num conjunto de 63 painéis (compostos entre 1924 e 1929), onde estavam “agrupadas” perto de mil imagens, desenhos, pinturas, páginas de livros, etc.

Warburg iniciou este projecto ambicioso, onde juntava estas “imagens”, de várias épocas e estilos, sem ir pela forma natural de fazer reflexões sobre a história, mas sim numa ideia de criar uma constelação em que procurava um sentido e estabelecia uma cadeia de transporte de imagens, de linhas de transmissão de características visuais através dos tempos.

Foge à ideia clássica de historicismo, de arquivo - um catálogo onde criamos uma totalidade, a maior possível, sobre um conjunto de dados - criando uma constelação de dados, imagens, sentidos, instaurando uma noção de pathos.

Teve um papel decisivo no tratamento e conexão com a “imagem de montagem” nas artes. Este conceito de montagem face à história é uma restituição que nos liga às imagens (contrapondo à insensibilidade e quietude do arquivo histórico). O que estabelece a ligação é da ordem da experimentação - tem uma relação com as imagens pela experiência, escolhendo os momentos, as imagens em relação com a sua experiência.

Vejo aqui toda a contemporaneidade da arte - o gesto do criador é o reconfigurar. Com o seu trabalho, Warburg descobre na história como memória o enigma do caos mimético de onde pode emergir o pensamento, o não esquecimento, a arte. Este e qualquer trabalho de rememoração terá que ser numa reconfiguração experimental, escolher um troço, fragmentos que criam um sentido, nunca fechado, mas que respeita o inacabado, o incompleto e que suscita novas interpretações. É através deste gesto da montagem que se possibilita ver o tempo a fazer-se - observar a história, desmontar e imaginar possibilidades do passado e do futuro. Reconfigurar o tempo, não histórico, mas possibilitante - fazer a conexão, não um mapa de conectividade visual e superficial, mas sim uma conexão com nós próprios, contra o esquecimento do ser.