Tempo... O que é o tempo? Como se mede tal
grandeza? Esta enorme pergunta, talvez demasiado grande até, tem
intrigado estudiosos, matemáticos, físicos, filósofos e curiosos ao longo da
história da humanidade. Mas não só. Também o cinema se pode servir de tal
teorética como base às suas próprias reflexões. Portanto, o que é o tempo num
filme? Dificilmente chegar-se-á a um consenso se procurarmos a definição
absoluta e definitiva de tempo porque ele é, para o ser humano, em senso
comum, apenas um evento psicológico, apenas uma sensação derivada da transição
de um movimento. O tempo sempre foi tratado como um conceito adquirido por
vivência, indefinível em palavras. Apesar de estar vinculado a eventos externos
ao indivíduo, sempre será definido de forma idiossincrática.
Já Platão havia afirmado que o tempo nasceu quando
um ser divino colocou ordem e estruturou o caos primitivo. O tempo tem,
portanto, de acordo com Platão, uma origem cosmológica. Platão procurou
estabelecer a distinção entre o "ser'' e o "não ser''. O mundo do
"ser'' é fundamental e não está sujeito a mutações. Ele é, portanto,
eternamente o mesmo. Este mundo, entretanto, é o mundo das ideias, apreensível
apenas pela inteligência e pode ser entendido utilizando-se a razão. O mundo do
"não ser'' faz parte as sensações, que são irracionais, porque dependem
essencialmente de cada pessoa. Para Platão este mundo é irreal. O domínio do
tempo estaria nesse segundo mundo, assim como tudo o que se observa no universo
físico, tendo assim uma importância menor. Talvez possa ser dito que para
Platão o tempo essencialmente não existe, uma vez que faz parte do mundo das
sensações.
No ensaio "A Thousand Plateaus",
Gilles Deleuze e Felix Guattari trazem à luz das suas reflexões duas correntes
subjectivas do tempo concebidas na Grécia antiga. O Aeon e o
Chronos. "Aeon: the indefinite time of the event, the floating line
that knows only speeds and continually divides that which transpires into an
already-there that is at the same time not-yet-here, a simultaneous too-late
and too-early, a something that is both going to happen and has just happened.
Chronos: The time of measure that situates things and persons, develops a form,
and determines a subject.… In short, the difference is not at all between the
ephemeral and the durable, nor even between the regular and the irregular, but
between two modes of individuation, two modes of temporality."
O que se cria então quando, ao presenciarmos um
filme, se interligam estes dois modos de temporalidade? Aquele que é o nosso
tempo real com aquele que é o do filme, por definição fictício. Aprofundar este
tema seria ir à procura do que foram os estudos de filósofos como Gombrich e Garroni sobre os modos de relacionamento do espectador com as imagens. A
própria concepção de dois tempos que, num certo momento, interagem em si é, por si
só, imensurável. Isto foi um dos pontos de origem para a criação de noções tão específicas
como a do tempo mental e a do tempo interior do espectador. Talvez um dos primeiros
passos a dar para realmente compreender esta questão seria deixar de associar o
tempo a algo que flui e passar a considerá-lo como algo que, simplesmente,
é. Um vasto caminho passível de ser aprofundado mas para o qual não tenho...
tempo.
"If I would live in times of Mark Aurelius, I would perceive the
time as he portrayed like the river, like the irresistible flow of all created
things. But I live now, time for me is the room, where the mirrored ceiling is
my future and the glass floor is my past and I am standing in the middle
looking out of the window in now and try to see the sky, knowing that if I
would want to reach it and jump, I would become the past."
Vicor Erice
Publicado por Rui Figueiredo
Publicado por Rui Figueiredo